domingo, 6 de dezembro de 2009

Crianças Paresí-Haliti

Eu entre duas crianças indígenas da etnia Paresí-Haliti. Foto tirada em 2007 durante os I Jogos Interculturais Indígenas de Mato Grosso ocorridos em Campo Novo do Parecis.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A rodovia dos Índios


A cultura de um povo em risco...


Uma estradinha de cascalho fora aberta em meio a Terra Indígena Utiariti no início da década de 1990. Naquela época, Campo Novo do Parecis, hoje uma cidade rica e próspera, era um pequeno amontoado de casebres e uma grande concentração de colonos dispostos a desbravar o que fora chamado de “chapadão inóspito e triste” por Roquette-Pinto em 1917.

Antes de abrir a precária estrada, o então prefeito campopareciense, Zeul Fedrizzi, procurou lideranças indígenas da etnia Paresi-haliti e, por diversas vezes teve um ‘não’ como resposta. João Arezomae (João Garimpeiro), o cacique-geral, foi um dos que negou “de pés juntos” a abertura do caminho ligando os rios Verde e Papagaio, limite geográfico das terras deste povo.

Depois de muito diálogo, Fedrizzi conseguiu convencer os indígenas sobre a importância de se ter uma estrada passando pelas aldeias. Em 1991, ele colocou as máquinas da Prefeitura para abrir o que ele próprio chama de ‘picada’. Motosserra, trator e um correntão foram usados para abrir um corredor em meio ao cerrado que predomina(va) nesta região.

O que ele [Zeul] não esperava é que a Justiça interviesse. Em 1991, quando a estrada já cortava a imensidão Utiariti, o ex-prefeito foi processado por abrir a trilha em terra indígena, ‘intocável’ na época. Hoje, João Garimpeiro, com 99 anos, diz que naquele tempo a Fundação Nacional do Índio (Funai) era ‘mais ruim de mexer’. Zeul responde ao processo até hoje.

Dezoito anos se passaram e a estradinha arenosa virou rodovia estadual asfaltada, batizada de João Arezomae (MT-235), uma homenagem ao ancião chefe do povo Paresi-haliti. Ao discursar para políticos e centenas de populares as margens do Rio Papagaio, no dia da inauguração, o ancião de voz cansada e palavras mal pronunciadas, disse: “índio qué estrada, mas qué cultura de índio preservada também”.

A rodovia passa próximo as aldeias Seringal, Bacaval e 04 Cachoeiras e trará muitos benefícios aos povos que ali habitam (transporte, educação, saúde, renda), mas este progresso deve custar caro. A indescritível cultura de um povo, o colorido de seus penachos, o ruído uníssono de suas canções e a inigualável beleza de suas matas e rios estão em xeque-mate.

Os penachos já dão lugar, há tempos, ao jeans e o som já tem outras notas. Os mais jovens dirigem camionetas 4x4, cantam sertanejo e dançam ‘psy’. Lhes é proibido vender bebidas alcoólicas, mas mesmo assim, eles tem acesso fácil a estas ilicitudes. As matas, que há muito vêm sendo alvo de queimadas e degradações, irão pelo chão.

Os paresi são pioneiros no plantio de soja, arrendam suas terras para sojicultores e já enfrentaram a Funai para poder fazer isso. Em 2004, a cacique Miriam Kazaizokairo declarou: "O artesanato não tem mais valor e a soja é vendida em dólar". Na mesma ocasião Miriam disse que a entidade não atende mais às necessidades dos índios e que eles já adquiriram outra cultura. "Se ficarmos parados no tempo, vamos virar peça de museu", garantiu.

O que dizer de tudo isso se os próprios índios paresi são favoráveis? “Ninguém mantém a cultura morrendo de fome”, relatou um. Atualmente a soja é um tapete verde entorno das aldeias e a caça e a pesca não são mais a principal fonte de alimentação deles. O contato com a civilização criou nos índios necessidades novas, resta saber se eles derrubarão a floresta nativa de suas reservas para a expansão da produção agrícola.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Coen e Karin-Marijke se encantam com belezas naturais e povo de Campo Novo do Parecis

Holandeses Karin e Coen
Ao fundo a Toyota Motor Home 4x4 

O português arranhado e carregado de sotaque é o que mais chama a atenção no casal de holandeses que viajam pelos mais diversos lugares da terra em busca de novidades turísticas e culturais, sempre apoiados por uma Toyota Motor Home 4x4 excêntrica, onde segundo eles carregam a própria casa.

A dupla de aventureiros holandeses Coen e Karin-Marijke percorre o mundo há mais de seis anos e, movidos pelo desejo de conhecer novas fronteiras dentro da vastidão do estado de Mato Grosso, chegaram e se encantaram com as belezas naturais e a hospitalidade do povo de Campo Novo do Parecis.

Com dificuldades de pronunciar a língua portuguesa, Karin e Coen falam da experiência de conhecer o verdadeiro Brasil. “Primeiro queria que você falasse mais devagar, porque não entendemos bem o português”, disse. Em seguida ela aponta: “tem muita coisa na grandeza do Brasil que ainda não foi mostrada”, referindo-se aos poucos roteiros matogrossenses disponíveis em guias internacionais.

“Aqui encontramos muita coisa linda, muita hospitalidade, cachoeiras que não deviam ficar desconhecidas”, enfatizou Coen. “Sempre tivemos a curiosidade em conhecer esta região, porque Mato Grosso é grande, com rios, selva, não é só o Pantanal e Chapada dos Guimarães”, complementou, informando ainda que poucos sabem dos potenciais turísticos de cidades como Nobres, Tangará da Serra e Campo No
vo.

Perguntados sobre o que mais os encantou em Campo Novo, eles foram pragmáticos em dizer: “Tudo. Não se pode dizer que uma coisa é melhor que a outra, cada coisa é diferente e todas são lindas”.

O casal permanece em Campo Novo conhecendo os principais pontos turísticos, depois seguem para a região norte do estado. Eles escrevem artigos e publicam em grandes veículos de comunicação de todo o Mundo, divulgando os potenciais que encontram pelos caminhos que percorrem.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Cacique João Garimpeiro

Cacique João Arrezomae - o João Garimpeiro Ele é o cacique geral dos índios Paresí-Haliti.

Não sei precisar, mas ele possui mais de 100 anos de idade, reside na Aldeia Kotytico e é respeitado por todo o seu povo.
Esta fotografia eu tirei em 2007 durante os I Jogos Interculturais Indígenas de Mato Grosso, ocorridos em Campo Novo do Parecis.

Reparem que ele está demonstrando como é a fabricação da bola utilizada na prática do Xikunahaty - o Cabeçabol.

Esta bola é feita de látex de Mangabeira, uma arvorezinha frutífera do cerrado brasileiro.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ipês anunciam o fim do inverno



Por Alexandre Rolim

O ipê amarelo é a árvore símbolo do Brasil e neste mês de setembro, aviva os quatro cantos do país. O inverno agora está no seu último estágio, apesar de que para nós ele veio estranho e franzino neste ano, reflexo das drásticas mudanças climáticas.

Na manhã de ontem recebi um chamado de uma pessoa que sempre colaborou conosco, Gilson Paz ou Baratinha como preferir, nos ligou para fazer uma reportagem, imediatamente me desloquei até o pátio da Casa da Amizade, sede do Rotary Clube.

Baratinha então mostrou o motivo de ter me chamado até lá. O “amarelume” ouro de uma árvore singela, grácil e extremamente linda, o Ipê amarelo. Não têm folhas, só flores. A graciosidade da árvore resume em pormenores a onipotência de sua beleza. Abelhas e mangavas zunem o tempo todo se deliciando com o néctar das flores amarelecidas.

Imediatamente pus-me a fotografar a árvore. Depois passei a pesquisar sobre ela. Descobri que o nome ipê vem da língua tupi, e pronuncia-se “ype”, que significa “árvore com casca grossa”. Também tomei ciência de que a árvore é do gênero da Tabebuia e da família das Bignoniáceas.

Achei interessante saber que a madeira do ipê é muito comercializada, especialmente para revestir pisos, devido à sua alta resistência e que a casca do ipê (roxo) é considerada uma panaceia para muitos males, inclusive para prevenção contra o câncer.

O Brasil é imenso, por isso, dependendo da região do país onde formos ouviremos um nome diferente para a árvore: páu-d’arco, peúva, péroba-de-campos, entre outros.

Agora, pressuponho que os ipês irão romper o marrom turvo e assombroso que cobre as ruas das cidades, não a nossa, pois infelizmente temos poucos ipês na área urbana. Estas árvores irão se sobressair ao asfalto e ao caos urbano. Espera-se que as pessoas vejam a beleza desta árvore e reflitam sobre o futuro, delas, e de tantas outras em detrimento.

Finalizo deixando um trecho do Hino Nacional, uma reverência à beleza dos nossos campos e florestas: “Do que a terra, mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida no teu seio mais amores."



Escrito inicialmente para o Jornal O diário de Campo Novo do Parecis

Campo Novo do Parecis é a Terra das Águas de Mato Grosso


Dependendo do ângulo que a fotografia for tirada, o Utiariti tem o formato do mapa do Brasil

Por Alexandre Rolim
Fotografia de Juliano Olejas


Alguns dos mais belos rios que o Estado possui estão ou passam pelas terras parecienses, como os rios Verde, do Sangue, Sacre e Papagaio. As águas desses mananciais são algumas das principais formadoras da Bacia Amazônica, maior bacia hidrográfica do mundo. EsportesAs águas são cristalinas, essenciais para a prática de mergulho livre e apnéia.

Para os aventureiros mais radicais há uma infinidade de opções, como o rafting e o rapel.O rapel pode ser feito na maior cachoeira do Município, o Salto Utiariti, de mais de 90 metros de queda, uma das maiores e mais belas cachoeiras do Estado, localizada no rio Papagaio. O Salto Utiariti está a 90 quilômetros do centro da cidade, nas Terras Indígenas (TI) da etnia Paresí-haliti, na divisa dos municípios de Campo Novo e Sapezal.
O local é de beleza ímpar que surpreende a todos os aventureiros apaixonados por esportes como o trekking e rapel. Interesses CulturaisNo local também podem ser observadas as ruínas da missão jesuíta do início do século XX. A área é de grande interesse cultural e religioso. A primeira escola indígena do Estado foi construída no local, há cerca de 100 anos.

É excelente para os turistas que gostam de tirar uma boa fotografia, dependendo do ângulo em que a foto for tirada, o Salto Utiariti se apresenta com o formato do mapa do Brasil.A MissãoA missão de Utiariti existiu em Mato Grosso mais ou menos entre os anos 1930 e 1970, no município de Diamantino (atual Campo Novo do Parecis).

Utiariti, que dista cerca de 550 km de Cuiabá, é o nome de uma cachoeira no Rio Papagaio, lugar sagrado para a nação Paresi-Haliti. Utia, quer dizer, sábio e haliti, gente. Para os Paresi, Utiariti significa "lugar de gente sábia".

Há uma lenda que diz que os Utia eram um povo à parte da nação Paresi, que faziam previsões do futuro e viviam em um lugar atrás da cachoeira."Os sábios entravam dentro do salto para colher cará, massa de amendoim, mandioca. Até hoje tem gente lá que não morre. Só que tem outro tipo de alma que pode encontrar com eles. Eles sabiam que vinha a missão, mas que depois ia acabar". ( mulher Paresi da aldeia Salto da Mulher, 1992).(Joana A. F. Silva/UFMT). Link para maiores informações:http://orbita.starmedia.com/~i.n.d.i.o.s/textos/txt010ut.htm .

Marechal Rondon
Na língua dos índios Paresí, Utiariti é o nome de um gavião sagrado para a nação. O nome Utiariti, no salto, existe em função do Marechal Rondon. Em suas incursões pelo Cerrado mato-grossense Rondon conheceu este salto, em 1907. A história conta que, ao avistar um gavião, um integrante de sua comitiva resolveu capturá-lo e foi impedido por um dos índios que os acompanhava. O índio argumentou que o gavião era sagrado para a sua nação e por isso não poderia ser capturado. Sensibilizado com o acontecido Rondon resolveu batizar o salto com o nome do gavião sagrado.